RECEITA DE BOLO PERSA COM AMÊNDOA, PISTACHE, CARDAMOMO E ÁGUA DE ROSAS
Pra hoje, fiz a receita muito, mas muito especial do bolo persa do amor, ou persian love cake, um bolo delicioso e lindo pra encantar uma pessoa querida, não importa quem seja, pode ser até só pra gente, simples assim.
Um bolo com massa rica em amêndoa, pistache, especiarias, amanteigado, com o toque muito especial da água de rosas, o toque dos cítricos, a cremosidade com acidez do iogurte e cobertura linda esbranquiçada com pistaches e pétalas miúdas de rosas pra finalizar.
É um bolo que vale como sobremesa de um momento muito especial, pra servir com chá ou pra dar de presente. Pode ser num dia daqueles em que a gente apenas celebra a vida e se dá um carinho, ou aniversário, dia das mães ou dos pais, namorados ou natal. É bolo pra arrasar.
O de hoje, vai pra Bebel, minha filha muito querida e que ama bolos assim desde muito pequena, já era apaixonada por bolo de semolina com uns 4 anos. Como ela mora no Canadá, fiz um com água de flor de laranjeira (ela prefere), liguei, mostrei e comi 2 fatias, uma pra ela e uma pra mim.
Eu amo uma fatia de bolo e não vivo sem, sendo bom, gosto de todos. Pra mim, o que interessa é ter massa saborosa, macia, que se desmancha na boca, crostinha deliciosa e, no caso de cobertura, que tenha gosto e agregue valor ao bolo (não gosto mesmo de coberturas decorativas, não têm a ver comigo).
Morro pelo bolo de fubá da minha avó, pelo bolo de nada, pelo bolo de banana que eu adoro ou pelo bolo de chocolate escuro com muita cobertura, que são muito caseiros e preparados com poucos ingredientes e todos muito básicos.
Mas também amo bolos com frutos secos, desidratados, nozes, castanhas e ingredientes especiais, como acontece com o de hoje. Ele é tão maravilhoso que já entrou pra lista dos preferidos. Surpreende mesmo, tem de tudo numa única mordida, só comendo pra entender e, claro, pra se apaixonar por ele.
Dizem que uma moça camponesa se apaixonou pelo príncipe e fez o bolo com rosas pra encantar, mas que o príncipe acabou não comendo, ela comeu o bolo sozinha e a história não teve aquele final feliz. Mas também existem versões contando que o príncipe, que não comeu o bolo no início e foi embora, acabou voltando, comeu o bolo, se apaixonou também e viveram felizes para sempre.
O fato é que, com ou sem feliz, a receita nasceu por amor e pra encantar com doçura e bolo isso é a essência de qualquer bolo.
De tão boa, a receita foi passando de tigela pra tigela, virou um clássico e conquistou corações pelo mundo.
Mas também há quem diga que a inspiração do bolo da moça apaixonada teria vindo do bolo do amor português, hipóteses não faltam
Sinceramente, a história é poética e o bolo é maravilhoso e isso é mais do que motivo pra fazer o bolo.
Namoro o bolo há muitos anos, talvez uns 35, comi uma fatia quando fui pra Paris pela primeira vez numa confeitaria que trabalhava com doces do mundo árabe. Ficou enlouquecida pelo bolo e, na semana seguinte, em Londres, encontrei mais um, comi de novo e tive certeza de que era impressionante mesmo.
Anotei tudo e fui separando receitas e versões nos livros, revistas e depois internet pela vida. Até fiz um quando a Nigella deu uma versão num dos livros dela há muitos anos e depois Ottolenghi. Mas há uns 6 meses, na Inglaterra de novo, comi um outro dos maravilhosos e entendi que estava na vez dele.
Fui de novo pros meus livros, juntei as anotações de anos, testei, retestei, juntei pedaços, dicas e pulos do gato e cheguei ao meu bolo do amor.
Um bom bolo pra você!
INGREDIENTES
A lista de ingredientes pra fazer esse bolo tão lindo:
- cardamomo;
- canela;
- semolina de grano duro ou sêmola fina (aparece dos dois jeitos);
- pistache cru;
- farinha de amêndoa;
- fermento químico;
- sal;
- laranja;
- manteiga;
- açúcar comum;
- ovo;
- iogurte natural cremoso;
- limão;
- água de rosas (mas água de flor de laranjeira dá um bolo delicioso);
- farinha de trigo;
- açúcar de confeiteiro.
Pra decorar o tradicional persian love cake, entram na receita as pétalas de rosa rubra, que são mini-rosas bem especiais e comestíveis. Normalmente, elas são desidratadas, tanto os botões inteiros, que são miúdos, como as pétalas e usadas para fazer infusões com finalidades medicinais.
Quando, apesar de desidratadas, elas ainda estão novas, os tons que vão do rosa ao vermelho são lindos e a delicadeza das pétalas e dos botões é pura poesia.
Fora do Brasil, achar pacotinhos de rosas lindas é bem simples, mas por aqui não é coisa de sempre. A gente até encontra em empórios naturais e casas especializadas em chás e infusões, mas vira-e-mexe as pétalas e botões já estão mais escuros, beges ou marrons, só mesmo com o perfume.
Na falta de pétalas de rosa desidratadas pra fazer o chá, dá pra usar pétalas frescas ou desidratadas comestíveis (as rosas de um jardim sem agro-tóxicos costumam ser comestíveis, assim como as orgânicas até vendidas em balcões de mercados alimentícios, mas as vendidas em floriculturas comuns, mas não dá pra arriscar com as das floriculturas comuns). Na fazenda tenho muitas mini-rosas e costumo secar pra enfeitar e perfumar a casas, fazer infusões e usar em receitas, mas sei que é um luxo.
E quando a gente não tem mesmo rosas comestíveis por perto, dá pra dar o clima poético com umas rosinhas num vaso ao lado do bolo ou usando pratos com flores.
O cardamomo é uma especiaria deliciosa, dá um aroma incrível e eu amo. Ele vem em bagos, como cápsulas com uma casquinha com textura de palha grossa, que a gente quebra (só dar uma batida com a lâmina de uma faca ou apertar com um pouco de força) e soltar as sementinhas.
Como as sementinhas são muito duras, nada agradáveis de se morder, e têm sabor e aroma muito concentrados, é preciso moer até conseguir um pó grosso agradável de sentir na mordida e muito aromático.
Dá pra fazer isso com a ajuda de um moedor ou de um pilão socando bem. Se, depois de esmagar bastante, ainda sobrarem partes muito duras, só passar por uma peneira pra descartar.
A canela: muitas receitas usam só cardamomo, mas encontrei várias também com pitadas de canela, experimentei dos dois jeitos e gostei ainda mais do bolo com a canela.
A sêmola ou semolina de grano duro (a gente acha com os dois nomes) é usada em massas, pizzas, pães e doces, tanto na cozinha italiana, como na mediterrânea e em todo o mundo árabe. Ela é mais grossinha, meio que sobra da moagem do trigo duro como farinha mais fina, dá textura e sabor deliciosos às receitas.
Hoje, a gente acha a sêmola com facilidade, marcas brasileiras como a Renata são comuns nos mercados, nem precisa ir atrás das importadas.
Dá pra fazer com farinha de trigo comum? Dá, mas a textura do bolo muda um pouco, os farelos ficam mais finos.
Pistache: pra receita, o ideal é usar pistache cru, que tem sabor mais fresco, passa umidade pro bolo e dá uma cor linda.
Farinha de amêndoa: o mais prático é comprar a farinha pronta, hoje a gente encontra em qualquer mercado de produtos naturais, em muitos supermercados e na internet, mas dá pra bater amêndoa sem pele não torrada no processador até virar uma farinha e usar.
Laranja e limão são sempre deliciosos e dão sabor e frescor ao bolo. As raspas da laranja entram na massa e o suco da laranja vai no glacê e o suco do limão a gente coloca parte na massa e parte na caldinha.
Além dos cítricos, o iogurte dá o toque de acidez perfeito ao bolo, além da textura macia deliciosa. Quanto melhor e mais cremoso o iogurte, melhor o bolo, vale investir no melhor.
O ingrediente mágico do bolo é a água de rosas, que além do sabor e do aroma incríveis, dá delicadeza e frescor impressionantes, sem falar que as rosas são a base do encantamento da receita. Vale a pena experimentar.
Há uns anos, era ingrediente que a gente só encontrava em supermercados, empórios especiais, mas hoje, com as compras pela internet, ficou tudo fácil.
Só que, sabendo bem que um bom tanto de gente acha que a água de rosas tem sabor e aroma muito florais e intensos, até enjoativos, penso sempre em outras possibilidades. Por aqui, o costume de usar água de rosa, principalmente nas infusões e doces, não é tão comum.
Como digo, cozinha pra gente e pra quem a gente gosta, e cozinha com o que tem por perto e tem que dar jeito pra tudo e, pra receita de hoje, esse jeito é usar a água de flor de laranjeira.
A água de flor de laranjeira também é floral, pois também é destilada das flores, mas o aroma mais cítrico e mais próximo da laranja, que é fruta e faz parte da vida das pessoas como alimento, costuma fazer mais sucesso por aqui.
Manteiga: encontrei receitas com manteiga e com óleo, testei com os dois e fiquei com a manteiga, tanto pelo sabor, como pela textura da massa.
Açúcar: pra massa e pra caldinha usada pra umedecer o bolo quente, usei açúcar comum refinado e o de confeiteiro ficou pro glacê.
Achei algumas receitas que diziam pra juntar pistilos de açafrão à caldinha usada pra umedecer o bolo quente e fiz um assim. Ele dá sabor, aroma e um leve alaranjado à camadinha que fica perto da crosta. Mas pensando no tanto que o ingrediente é especial por aqui, posso dizer que dá pra fazer sem.
PREPARO
A receita é simples de preparar, mas classifiquei como um pouco trabalhosa só pelas etapas, pois não é aquele bolo que a gente faz a massa em meia hora, assa e em menos de 3 horas já pode servir.
Aqueço o forno a 180ºC (médio), untando com manteiga e polvilhando com farinha uma fôrma média de buraco no meio (uns 20 cm). Muita gente prepara em assadeiras redondas (uns 20 cm) e também fica perfeito, vi até um numa fôrma de coração, lindo também.
Quanto à farinha de polvilhar: fiquei com a comum porque achei que a semolina deixou a crosta mais crocantezinha e, no caso, a mais delicada deu mais certo (ao contrário do que acontece com bolo de semolina e amêndoa das 1001 noites).
Começo abrindo os bagos de cardamomo e, com um moedor ou com um pilão, soco as sementes até conseguir um pó grosso (quando sobram muitos dos grãozinhos duros, passo por uma peneira).
Numa tigela média, misturo o cardamomo, a semolina, o pistache, a farinha de amêndoa, o fermento, a canela, o sal e as raspas de laranja e reservo.
Coloco a manteiga e o açúcar na tigela da batedeira e, usando a pá (raquete), bato até esbranquiçar. Junto os ovos um a um ovo, incorporando o seguinte só depois de incorporar o anterior.
Acrescento os secos numas 3 etapas, depois adiciono o iogurte, o suco de limão e a água de rosas. Bato só até a massa encorpar e transfiro pra fôrma.
No forno, o bolo leva uns 45 minutos pra firmar, crescer e dourar (ao enfiar um palito no centro, ele deverá sair limpo).
A etapa da caldinha é importante, faz parte das versões mais emocionantes do bolo, tem gente que vai direto pra cobertura. Acho que coloca uma camada extra de sabor, de aroma e, principalmente de textura, umedecendo a massa, mas fazendo uma casquinha que protege o bolo de secar.
Não dá trabalho, nem ao fogo vai, a mesma coisa que a gente faz com bolo de limão e bolo simples de laranja. Só misturar numa tigelinha o suco de limão, a água de rosas e o açúcar e pincelar o bolo muito quente com ela.
Desenformo o bolo 5 minutos depois de retirar do forno já sobre o prato de servir, pincelo com a calda e deixo descansar por umas 3 horas pra que ele absorva bem e esfrie totalmente.
Pra finalizar, preparo o glacê. Numa tigela, misturo com uma colher o açúcar de confeiteiro, o suco de laranja e a água de rosas até conseguir uma pasta esbranquiçada. Em seguida, com uma colher, espalho esse glacê sobre o bolo deixando escorrer.
Por cima do glacê ainda mole, coloco o pistache e, se tenho por perto, espalho umas pétalas das mini-rosas (na fazenda, costumo colher mini-rosas e secar pra usar).
Depois, só deixar secar por mais uns 30 minutos e servir. Dá pra preparar o bolo com uns 2 dias de antecedência, fica perfeito, mais saboroso ainda. Acho que, com uns 3 dias ele já começa a secar.
Outras receitas deliciosas pra que ama especiarias: frango amanteigado indiano ou butter chicken ou murgh makhani, maamouls com água de flor de laranjeira e frutos secos, pilaf de arroz com lentilha e frutos secos e pão alemão recheado com marzipã.
E mais uns bolos lindos e deliciosos aqui Na Cozinha da Helô: Bolo de maçã com especiarias muito especial, bolo de pera, mel e nozes, bolo de ricota com limão e mel e bolo de chocolate escuro com muita cobertura.
Massa e caldinha Glacê e finalização mais uns bolos lindos e deliciosos aqui Na Cozinha da Helô: Bolo de maçã com especiarias muito especial, bolo de pera, mel e nozes, bolo de ricota com limão e mel e bolo de chocolate escuro com muita cobertura. A receita tradicional é preparada com água de rosas e fica deliciosa, mas o bolo preparado com água de flor de laranjeira fica maravilhoso tambémINGREDIENTES
Preparo
NOTAS
2 Comentários
Helo,
Tudo bem? Fiz o bolo e amei mas ele não cresceu, acho que por causa da semolina que usei. Qual vc recomenda?
Grata,
Suzi
Oi Suzi, tudo bem?
Que pena! Eu usei a sêmola da Renata, um pacote meio bege, escrito para pães, pizzas e doces árabes.
Será que não foi o fermento? Às vezes, com esse calor abafado eles perdem um pouco da potência, mesmo na validade (a gente nunca sabe o que acontece com eles nos mercados …).
Qualquer coisa, só falar, beijo, Helô