VIAJANDO E COMENDO PINHÃO
Em julho de 2014, depois da overdose de copa do mundo, sumi com marido e filhas pelo sul do Brasil. Queria uma viagem leve, tranquila, pra descansar mesmo, viajando de carro, parando dois ou três dias em lugares charmosos e descontraídos e, principalmente, pra comer pinhão com araucárias ao redor.
E foi exatamente isso que aconteceu. Cruzamos o Paraná, vendo muitas e muitas araucárias e comendo alguns pinhões pela estrada, mas o destino na ida era Serra Gaúcha e não paramos tanto nesse trecho da viagem.
Os campo são bonitos demais, as colônias dos imigrantes italianos e alemães são interessantes e cheias de casas lindas, o aconchego do friozinho é bom e sempre tem mais uma coisa gostosa pra comer, ainda que só pra experimentar, mas eu queria mesmo comer pinhão.
Pelo caminho, eu seguia feliz com as comidas rústicas e artesanais que eu tanto adoro, com muitos queijos, embutidos, vinhos e sucos de uva, geléias, pães, cucas e biscoitos, sopeiras com cappelletti divinos em brodos saborosíssimos, galetos ultra saborosos.
COMENDO PINHÃO
Mas voltado ao começo. No primeiro dia da viagem, ainda no Paraná, vendo os primeiros bosques de araucária, a gente logo passou por uma cidade que se chama Pinhão e eu já amei. Senti a “primeira vontade” de comer pinhão pra valer e percebi que a minha ideia de viajar pensando em pinhão fazia muito sentido.
Os dias foram se passando, os bosques de araucária aumentando e a vontade de comer pinhão também, mas até nesse ponto a gente só encontrava um ou outro vendedor de pinhão.
Na Serra Gaúcha, eu olhava os pinheiros, sonhava com pinhões cozidos macios pra comer aos poucos e também pra fazer creme de pinhão, carne de panela com pinhão , arroz com pinhão e farofa de pinhão.
Até que chegou o meu grande dia do pinhão. A partir de Nova Petrópolis e a caminho de Cambará do Sul, a estrada cortava bosques intermináveis de araucária e, de tempo em tempo, beirando o caminho a gente encontrava gente preparando e vendendo pinhão.
A gente avistava uma fumaça saindo de uma chaminé meio improvisada, que avisava que a barraca vendia sacos de pinhão cozido e bem quente, pronto pra comer na hora, no carro mesmo. Nem preciso dizer que foram muitas paradas pra comer aqueles pinhões fresquíssimos e muito macioso.
No meio da tarde, a gente chegou ao Parador da Montanha, um hotel maravilhoso que fica perto dos cânions de Itaimbezinho e Fortaleza. No final da tarde, veio o convite pra contemplar o pôr do sol num banco circular ao redor de um fogo de chão, que por si só já era o máximo.
Pra minha surpresa e pra completar o dia pinhão, um funcionário do hotel chegou com uma cesta de pinhões crus, espalhou tudo sobre uma grande panela de ferro para que eles assassem sobre o fogaréu. Não era uma sapecada, como fazem muito por lá, porque os pinhões não estavam mais nos galhos, que queimam em minutos e de um jeito lindo, mas era bonito também.
Por uns 40 minutos, de vez em quando alguém se levantava e, com uma pá que lembrava um rastelo, dava uma mexida nos pinhões, pra que eles assassem por igual. Não precisa dizer que eu fiquei por ali e cuidando dos pinhões o tempo todo…
Quando os pinhões douravam por fora, era só pegar um deles, colocar sobre uma tábua, dar uma martelada pra quebrar a casca e comer.
No hotel seguinte, na Serra do Rio do Rastro, serviram um almoço campeiro, e eu me regalei com entrevero gaúcho, um mexido bem temperado com carnes e pinhões, bom demais. No texto sobre o entrevero eu falo bastante dele e da minha experiência com a receita.
Já em São Paulo, mas ainda no clima pinhão, comprei um pacote no supermercado. Cozinhei tudo, descasquei os pinhões com um apetrecho que facilita muito o trabalho, a gente comeu metade só cozidos e usei metade pra fazer um monte de receitas gostosas.
Como ele congela muito bem, eu sempre compro bastante quando está na época, cozinho, descasco e, por muito tempo, tenho pinhão pra usar nas receitas.
Que tal aproveitar a safra de pinhão e ir pra cozinha?