RECEITA DE ROSQUINHA DE PINGA
No dia da “fazeção” das quitandas, mineiras caprichosas enchem potes e mais potes com biscoitos doces e salgados deliciosos. E a receita das rosquinhas doces de cachaça faz parte da lista de quitandas preferidas, ninguém resiste ao biscoito com a casquinha crocante e açucarada por fora e o miolo levemente macio.
A cachaça deixa a rosquinha com sabor e perfume bem delicados, ao contrário daquilo que muita gente pode imaginar. Já servi as rosquinhas pra quem não tome um golinho sequer de cachaça e adorou.
Quanto ao nome, uns chamam de rosquinhas de cachaça, outros de rosquinhas de pinga, outros de rosquinhas açucaradas de cachaça ou de pinga, mas isso tanto faz.
O que importa é saber que é uma rosquinha pra lá de tradicional, que aparece em montes de cadernos de receitas. Como sempre, as receitas mudam um pouco nas proporções dos ingredientes e nas quantidades, mas o preparo é o mesmo.
Elas ficam lindas em saquinhos de celofane pra presentear.
INGREDIENTES
Praticamente todas as versões começam com a mistura da farinha, do açúcar e da gordura escolhida, que pode ser manteiga, banha ou óleo.
Depois entram o ovo, a cachaça, a água suficiente pra dar liga e o ingrediente que faz o biscoito crescer e ficar com consistência que é meio crocante, meio bolinho.
Quanto à gordura, já testei com manteiga, com banha e com óleo e, sinceramente, fico com a manteiga, tanto pelo gosto delicioso que ela tem, como pela textura.
A banha dá a mesma textura, mas o sabor da manteiga é melhor, e o óleo deixa um gostinho de óleo que a gente percebe e não tem graça e, ainda por cima, dá uma rosquinha mais pesada.
Tem um bom tanto de receitas que falam pra usar quantidades maiores e certas de água e, com isso, pra acertar o ponto juntando mais farinha.
Experimentei fazer desse jeito, mas não gostei do resultado, achei que é melhor ter uma quantidade mais precisa de farinha e só acertar com o ponto com algumas poucas polvilhadas extras ou com um pouco de água, de 1 a 3 colheres (sopa) no máximo.
Esses ajustem dependem da umidade do ar, da umidade da farinha e do tamanho do ovo. Só não pode exagerar nem na água e nem na farinha, que deixam a rosquinha pesada.
O X DA QUESTÃO: BICARBONATO DE AMÔNIO (OU SAL DE AMONÍACO) E FERMENTO QUíMICO
Aí vem o x da questão: o tal do bicarbonato de amônio, que antigamente era conhecido por sal de amoníaco e entrava em muitas receitas de biscoitos.
O problema é que, de uns anos pra cá, o ingrediente virou raridade, os mercados e farmácias de manipulação que costumavam vender quase não trabalham mais com o produto. Outro dia eu achei no Zaffari, em São Paulo, e às vezes dá pra encontrar na internet, mas nem sempre isso é simples.
Só que ele realmente importava nas receitas, dava uma textura única, aerada e crocante ao mesmo tempo (como se fosse o miolo de um biscoito champagne, só que mais crocante).
Quem já experimentou os palitinhos franceses da minha avó (aqui no site tem a receita da minha avó Dina, mãe do meu pai), das rosquinhas de sal e chegou a comer as rosquinhas de cachaça originais entende bem a consistência tradicional.
Na verdade, as 3 receitas já faziam parte do Na Cozinha da Helô há bastante tempo, mas como eu não conseguiu o ingrediente e sabia que as pessoas também não achavam, deixei os biscoitos de lado. Mas de tanto receber mensagens perguntando sobre substituições, fiquei com vontade de comer os biscoito e fui pra cozinha retestar.
A primeira pergunta que me fazem é “se usar bicarbonato de sódio no lugar não fica igual?” e a resposta é não.
A segunda pergunta é: e como resolver se não encontrar mesmo o bicarbonato de amônio (ou sal de amoníaco)?
Depois de experimentar e experimentar de novo, vio melhor é usar fermento químico, o em pó comum que a gente usa pra bolo, mas sem exagerar pra evitar que o biscoito vire um bolinho.
Pra quem não sabe, o fermento em pó tem na composição uma parte de bicarbonato de sódio, uma de cremor de tártaro e uma de amido e essa mistura funciona.
Mais uma vez: a textura não será a mesma da que a gente consegue com o bicarbonato de amônio (sal de amoníaco), mas o biscoito será gostoso, terá uma consistência boa, dá pra matar a vontade e continuar preparando a receita.
Ou seja, se você conseguir comprar o bicarbonato de amônio, fique com ele, que dá uma textura única à massa, mas na falta dele use o fermento químico (agora em dezembro de 2023, achei no supermercado Zaffari, em São Paulo, e já comprei uns 3 pacotinhos). O que não dá é pra deixar a receita morrer.
PREPARO DA MASSA
A massa é muito simples e rápida de preparar, só misturar até formar uma bola macia e que se solte das mãos.
E modelar também não é difícil, só pede um pouquinho de paciência, pois os biscoitinhos têm que ser enrolados um a um. Uma boa tarefa pra quando a gente precisa relaxar ou pensar na vida, ou pra quando a gente quer fazer alguma coisa com mais gente, como uma atividade com crianças.
É importante acreditar que esse não é um biscoito pra abrir com um rolo e cortar com cortador ou com a borda de um copo.
O preparo não é complicado, só é preciso ter um pouco de paciência pra modelar, mas a massa é tão macia e simples de trabalhar que em pouco tempo as rosquinhas ficam prontas pra assar.
Pra moldar, é só pegar uma porção bola de massa do tamanho de uma bola de gude das maiores, fazer uma cobrinha de uns 30 cm, depois dobrar ao meio, torcer e juntar e colar as pontas pra conseguir uma mini-guirlanda.
Dá também pra fazer uma bolinha, achatar e deixar um formato meio ovalado, mas como rosquinha fica bem melhor.
O açúcar da finalização pode ser comum ou de confeiteiro. Com o de confeiteiro, a camadinha fica mais fina, mas o comum funciona bem.
ASSAR E FINALIZAR
Essa rosquinha pura e simples não tem nada de muito especial. Ela ganha vida com a finalização, que não é complicada, só tem etapas e precisa de organização. Enquanto o forno aquece, eu já separo os ingredientes da finalização e deixo tudo pronto.
A organização é importante porque, pra conseguir a casquinha perfeita, a gente tem que trabalhar com os biscoitos bem quentes, saindo do forno. Pra facilitar a vida, eu me acostumei a colocar no forno 1 assadeira com metade das rosquinhas, espero 10 minutos e coloco a segunda.
Desse jeito, consigo controlar o tempo, enquanto finalizo a primeira leva, a segunda termina de assar. Já deixei um tanto de biscoitos esfriar de propósito e voltei com eles pro forno quente por 1 minuto, foi um jeito de resolver.
Voltando pro processo da finalização. Num pote vai a misturinha de caçhaça e água (na foto, eu coloquei a cachaça numa caneca e numa outra a infusão de erva-doce, logo vou explicar essa possibilidade).
Num outro pote vai o açúcar pra rolar as rosquinhas e aí vem uma dica boa e que faz toda a diferença: como a rosquinha vai entrar molhada de cachaça no pote do açúcar, o açúcar vai umedecer e com ele essa etapa não vai dar muito certo.
Vale a pena colocar no mais ou menos 1/3 de xícara de açúcar, rolar umas rosquinhas e ir completando com açúcar aos poucos.
Pra dar certo, é fundamental banhar 1 rosquinha por vez: a gente pega 1 rosquinha, mergulha por 1 segundo na mistura de cachaça só pra umedecer (não é pra soltar e deixar de molho), rola no açúcar e transfere pra uma assadeira limpa ou pra uma grade.
Depois de secar por 1 a 2 horas em temperatura ambiente e sem cobrir, as rosquinhas ficam com aquela casquinha açucarada e com o miolo delicioso. Só colocar num pote que feche bem e se deliciar por mais ou menos 1 semana.
Sempre fiz as rosquinhas com a finalização de cachaça, mas outro dia fiz uma experiência e amei o resultado.
PRA VARIAR – ROSQUINHA COM ERVA-DOCES
Como eu tinha colhido e secado sementes de erva-doce da hora, resolvi fazer metade da receita com erva-doce. Peguei metade da massa, misturei 1 colher (sopa) de erva-doce, fiz uma trancinha simples só mesmo pra diferenciar da metade só de cachaça e assei.
Na hora de finalizar, troquei a mistura de cachaça e água por uma infusão de erva-doce bem simples. Fervi 1 xícara de água, coloquei 1 colher de sopa de sementes de erva-doce, deixei descansar por 15 minutos e coei. Saindo do forno, mergulhei os biscoitos de erva-doce nessa infusão e depois rolei no açúcar.
Massa Calda Outros biscoitinhos de antigamente: como fazer os palitinhos franceses da minha avó, rosquinhas de sal, biscoitinho de coco que desmancha na boca ou sequilho de coco e como fazer beliscão com goiabada delicioso. Experimente fazer as rosquinhas com erva-doce. No texto antes da receita a gente explica como fazer. INGREDIENTES
Preparo
NOTAS
4 Comentários
Suas receitas me levam sempre ao encontro da minha mãe. Fiz as rosquinhas e foi um retorno à infância, quando trançava rosquinhas desajeitadas na grande mesa da copa da casa da minha avó, junto com minhas tias e minha mãe. Obrigada por essa oportunidade de reencontro.
Thábata, boa noite!
Muito obrigada pelo carinho. Mensagens como a sua dão sentido ao meu jeito de ser e de viver a cozinha. Cozinhar é puro amor.
Fico feliz em saber que a receita te trouxe lembranças boas.
Conte sempre comigo.
Abraços, Helô
Helo obrigada pelo carinho dessa receita. Minha mãe fazia tradicionalmente na época do Natal. Não ficamos com a receita, pois ela fazia sem medidas, somente na sua experiência. Vou fazer essa receita para presentear meus irmãos com essa lembrança tão querida.
Joana querida!! Feliz demais por saber da sua mãe, do quanto o biscoitinho foi importante na vida de vocês e que ele será presente de Natal.
Depois me conta!! Beijo, Helô