FARINHA DE BRAGANÇA
Até que chegou o dia tão sonhado da farinha de Bragança. Bragança, uma cidade cheia de encantos e uns anos mais antiga de Belém, pois os portugueses vieram pela costa do Maranhão e pararam primeiro por lá.
A cidade é linda, com vários casarões dando pro rio Caeté e nas praças que ficam nas ruas logo atrás, igrejas cheias de história, um mercado bem charmoso e uma feira bem grande, daquelas que a gente quase se perde e acha de tudo.

Há uns bons anos eu pensava em ir até Bragança, pois adoro cidades antigas, e também achava que seria interessante visitar a tal “Vila que Era”, um povoado com uma história bem peculiar.

Na verdade, os portugueses começaram a construir o vilarejo que seria Bragança num canto do Rio Caeté, só que, pouco tempo depois, descobriram que seria melhor instalar a cidade um pouco adiante e seguindo o mesmo lado do rio.
Eles simplesmente deixaram de lado o primeiro povoado e, levando o nome Bragança, fundaram um outro no local escolhido. Alguns moradores ficaram no antigo, que ficou sem nome e esquecido, até que passaram a dizer que ali ficava a Vila que Era, ou que era pra ter sido Bragança e não foi.

Achava a história o máximo, mas também queria conhecer as mulheres paneleiras, que modelam o barro preto e ainda fazem panelas e utensílios com as técnicas indígenas, até mesmo a forma de queimar.
Fui atrás delas e confesso que fiquei meio triste em ver que um poucas mulheres seguem com o ofício, tanto que só visitei duas delas, que tinham poucas coisas e tive que insistir pra conseguir comprar um refratário.
DIA COM O SEU BENÉ – O MESTRE FARINHEIRO DO BRASIl
Tudo o que disse acima vale, mas o que mais me motivou a viajar pouco mais de 200 km num final de dia pra ir até Bragança e mais uns 200 km pra voltar pra Belém no final do dia seguinte foi a vontade grande de conhecer a terra da farinha de Bragança.
Lá, onde é feita uma das melhores farinhas de mandioca do Brasil e o seu Bené, um senhor de 70 e poucos anos que é o grande “professor de farinha” do Brasil, ou mestre farinheiro ou o mestre da farinha.

Esse sonho vem de duas grandes paixões da minha vida. A primeira é por farinha de mandioca e a segundo é por farofa, que é o meu prato preferido. Depois da farofa vêm pão, queijo, tomate e bolo, mas ela sempre foi prato obrigatório na casa dos meus pais e em casa, herança do meu avô paraibano.
Adoro farinhas de vários cantos do Brasil, das bijus e crocantes baianas e goianas, da polvilhada de Santa Catarina, das finas da Bahia e de outros cantos do Nordeste, mas a de Bragança é diferente de tudo e espetacular, basta comer uma colherada da farinha pura, com açaí ou como farofa pra entender.
Como eu disse, não dá pra dizer que é a melhor de todas porque cada farinha tem as suas características e finalidades, a catarinense é a melhor pra fazer pirão, mas Bragança é sério.
A outra paixão é pelo simples, pelos saberes e fazeres que têm relação com o alimento. As duas paixões juntas me faziam sonhar com Bragança, com farinha e com o seu Bené.
Com a farinha d’água do seu Bené eu fiz farofa paraense com feijão manteiguinha e coentro e pirarucu de casaca.

Se você quiser saber mais sobre a viagem, leia também os posts Belém é o máximo 1 (a viagem), Belém é o máximo 2 (Ilha de Mosqueiro), Belém é o máximo 3 (mercado do Ver-o-Peso), Belém é o máximo 4 (açaí e tacacá) e Belém é o máximo 5 (cacau da Amazônia em Combu).