RECEITA DE AFOGADO DA FESTA DO DIVINO
Hoje eu vou te ensinar como fazer um afogado no capricho. Eu adoro o afogado preparado pra festa do Divino Espírito Santo e acho que você também vai gostar.
Nos tempos do Lá da Venda, eu adorava ver um cliente receber, com surpresa, o lindo purungo de cerâmica da Muriqui cheio de afogado fumegante e perfumado, acompanhado de um bocado de farinha de mandioca e de banana assada.
Acho isso incrível, porque o afogado é um prato muito, mas muito simples mesmo, servido há anos nas festas populares de algumas cidades do Vale do Paraíba.
Comecei a comer o prato em meados dos anos 1970, quando eu não perdia uma festa popular de São Luiz, do Paraitinga. As festas homenageavam São Sebastião, São Benedito, Santo Antônio, São João, São Pedro e o Divino Espírito Santo e movimentavam a vida da cidade inteira.
A comemoração durava dias bem animados, mas a festa começava muito antes. No final de cada festa, eles já escolhiam o festeiro do ano seguinte, que durante 12 meses, visitava os moradores da cidade e de toda a roça atrás de prendas e doações pra festa do ano seguinte.
O grupo do festeiro andava pelos caminhos da zona rural carregando a bandeira do Divino e ia de fazenda em fazenda, dormindo na casa de um escolhido, que preparava o jantar do “pouso da folia” e recebia a benção do Divino. O jantar era sempre farto, com frangos, patos, macarrão e doces em calda.
A vizinhança chegava devagar e todos passavam horas rezando, cantando modas de viola, conversando, comendo e doando queijos ou bois, que custeavam a festa. Muitas doações viravam prendas do grande leilão, e os bezerros e bois se transformavam na comida do grande dia da festa, o Afogado.
Como aparecia nos programa das festas, que eu guardei, emoldurei e tenho na sala da casa da fazenda, todos eram convidados pra comer o afogado farto no pátio do mercado municipal.
Seguindo a tradição, um grupo de homens especialistas na preparação, cuidava de matar o animal, limpar a carne, montar os fogareiros e preparar tudo em tachos imensos colocados no centro do pátio do mercado. Na minha cozinha, eu tenho um tronco bem antigo que um dos açougues do local usava pra cortar carne.
No grande do afogado ninguém cozinhava em casa, cada um pegava os seus talheres e prato, ia pro mercado, entrava na fila e saía com a sua porção de afogado, tudo de graça.
Perdi a conta das vezes que fui comer até lá com o Ricardo, meu irmão mais novo. A gente saía cedo da fazenda a cavalo com os pratos de ágata e muita fome e chegava ao mercado na hora do afogado.
É claro que o afogado pra tanta gente era feito do jeito que dava, o boia era cortado como fava, os temperos iam pros tachos com a água de uma vez e o ensopado passava horas e horas no fogo, mas eu amava.
Como eu achava aquilo delicioso, conversei com muita gente da cidade e cheguei ao meu “Afogado no capricho”, quer dizer, feito em casa, pra pouca gente, com ingredientes mais escolhidos e com um pouco mais de cuidado no preparo. E é assim que eu fazia no Lá da Venda e que eu vou te ensinar hoje.
E mais uma coisa, quem já comeu o barreado paranaense, que eu também ensino a preparar aqui Na Cozinha da Helô, vai achar que o afogado se parece com ele. É verdade, mas o primeiro é preparado na panela fechada e selada com uma pasta de farinha de mandioca e o afogado paulista que vai aqui é feito em tachos abertos.
INGREDIENTES E PREPARO
Pra fazer o afogado, eu uso:
- bacon em cubinhos;
- cebola;
- alho;
- pimentão vermelho;
- tomate maduro;
- carne pra ensopado (pode ser coxão mole, coxão duro, acém, costela desossada, maminha, patinho);
- água fervente;
- louro;
- ervas variadas (uso salsinha, cebolinha, hortelã e alfavaca ou manjericão);
- óleo vegetal;
- sal;
- pimenta-do-reino;
- banana nanica madura;
- farinha de mandioca fina ou bijú pra servir;
- molho de pimenta-vermelha pra servir.
A carne tem que ser boa pra ensopados e limpíssima de nervos e gorduras. Quanto ao corte, já usei coxão-mole, coxão-duro, costela, acém, patinho e maminha.
O coxão duro, o acém e a costela têm mais colágeno e dá ensopados deliciosos, são muito saborosas, além de terem preço mais em conta. Coxão mole, patinho e maminha têm custo um pouco maior e bem menos gordura, ficam muito macios e agradam as pessoas que preferem carnes mais leves. Fica bom sempre!
Os outros ingredientes são muito comuns, nada além de bacon, cebola, alho, tomate, pimentão, louro, salsa, cebolinha, alfavaca ou manjericão, sal, pimenta, água.
A carne refogada com os temperos cozinha devagar na água até ficar muito macia e saborosa com um caldo delicioso, depois entram as ervas pra dar frescor.
Apesar de levar horas no fogo e precisar ser preparada na véspera pro cozido descansar, é uma boa receita pra receber, já que só basta ser aquecida pouco antes de servir.
Pra conseguir um afogado incrível, com muito sabor, aroma e textura, eu costumo preparar a receita com pelo menos 12 horas, ou até com uns 2 dias de antecedência. Não dá pra comparar o afogado descansado com o feito logo antes de levar à mesa.
Na hora de preparar, eu rego o fundo de uma panela grande com um pouco de óleo e douro ligeiramente o bacon. Depois junto a cebola, o alho, o pimentão e o tomate e deixo murchar. Acrescento a carne, mexo até que os pedaços mudem de cor de todos os lados, e então adiciono a água, o louro, sal e pimenta.
Quando a água ferve, eu descarto com uma escumadeira toda a espuma que sobe. Abaixo o fogo e cozinho por 3 horas com a panela semi-tampada, até que a carne ficar muito macia e se separando em lascas e com o caldo saboroso.
Espero amornar e levo à geladeira. Antes de servir, eu descarto a camada de gordura da superfície e volte com o afogado pro fogo. Deixo ferver por 5 minutos, acerto o sal e a pimenta e junto as ervas.
Meia hora antes de servir, eu faço um corte no sentido do comprimento na casca de cada uma das bananas, coloco numa assadeira com o lado cortado pra cima e levo pro forno a 200°C (alto) até ficarem macias. Na pressa, eu cozinho as bananas por 5 a 10 minutos no micro-ondas em potência alta.
SERVIR
Na hora de servir, cada um coloca um tanto de carne e de caldo fumegante no seu prato, espalha por cima um pouco de farinha de mandioca e mexe com o garfo pra formar um pirão. A banana e o molho de pimenta deixam o cozido muito mais gostoso.
Eu gosto tanto do afogado com farinha e banana que nem ligo pro arroz, mas que não abre mão dele pode preparar uma receita de arroz branco de todo dia.
Faço muito em casa, muito mesmo, e todo mundo adora. E já preparei a receita de afogado no capricho em vários jantares na minha casa e o sucesso é garantido, os convidados se surpreendem mesmo com o ensopado que fica com a carne bem gostos e macia e o caldo saboroso que dá. Só comendo pra entender.
E salve o Divino Espírito Santo!
Outros receitas brasileiras de prato principal que eu adoro: torta capixaba caseira, como fazer um bobó de camarão fácil e delicioso, frango com quiabo caseiro e vaca atolada no capricho.
Outros receitas brasileiras de prato principal que eu adoro: torta capixaba caseira, como fazer um bobó de camarão fácil e delicioso, frango com quiabo caseiro e vaca atolada no capricho Apesar de levar horas no fogo e precisar ser preparada na véspera pro cozido descansar, é uma boa receita pra receber, já que só basta aquecer bem antes de servir.INGREDIENTES
Preparo
NOTAS
2 Comentários
Oi Helo, vc tem que experimentar o Afogado e as outras roupagens que o Mai Sera o Binidito faz aqui em São Luiz
Dani, bom dia!
Vou experimentar sim!
Cresci comendo afogado nas festas do Divino e muitas outras, desde 1975, ia com o Ricardo (casado com a Paula, filha da D.Euriza e seu Itiel) ao mercado, ficava olhando o preparo nos tachos, depois a gente pegava os pratos e talheres que levava da fazenda nos cavalos, pegava um tanto, sentava na beira do rio e comia… Lembranças tão boas…
Desculpas pela demora na resposta, mas a minha filha Ana, companheira de tudo e que fazia todas as fotos pro Na Cozinha da Helô, não estava bem e faleceu há uns 15 dias. Tristeza sem fim.
Abraço, Helô