Texto Flávia G. Pinho e fotos Caio Ferrari
Quem conhece a obra de Jorge Amado, especialmente o livro Terras do Sem Fim, sabe que a história da Bahia se confunde com a história do cacau. Embora sua origem seja a região amazônica, a fruta foi plantada em grande quantidade no sul da Bahia, em Ilhéus e arredores, e se adaptou tão bem que, no início do século XX, o Brasil já era o maior produtor mundial. Os donos das terras, os temidos coronéis, acumularam poder e riqueza que pareciam infinitos – mandavam e desmandavam, cometiam as maiores extravagâncias e resolviam desavenças a bala. Na carona daquelas fortunas, as cidades do sul da Bahia prosperaram a olhos vistos.
Naquela época, qualidade não era uma palavra muito em voga – o que valia era plantar e colher o máximo possível de cacau, e despachar grandes volumes para o exterior. Tudo começou a mudar – e de forma drástica – nos anos 1990. O fungo Moniliophthora perniciosa, apelidado de vassoura de bruxa, tomou conta das plantações e dizimou as lavouras. Em poucos anos, os ricos fazendeiros perderam tudo e as cidades, antes tão prósperas, empobreceram. Na região, muita gente acredita que a praga foi introduzida de forma intencional e criminosa. Existe até um documentário sobre o assunto, “O Nó: Ato Humano deliberado”, disponível no Youtube.
NOVA ERA
Mais de uma década depois, os herdeiros dos antigos coronéis do cacau começaram a reescrever a história do cacau no sul da Bahia. Descobriram que, com manejo adequado e novas técnicas, poderiam controlar a vassoura de bruxa e colher frutos de alta qualidade, muito valorizados pelo mercado internacional.
Em 2010, o produtor João Tavares teve a ousadia de inscrever suas amêndoas no Salão do Chocolate, em Paris. Chegou lá vítima de deboche, já que ninguém mais acreditava no cacau brasileiro, e saiu vingado, com um importante prêmio embaixo do braço. Desde então, outros estados vêm despontando como produtores do chamado cacau fino, destinado à produção de chocolate de alta qualidade. Entre eles estão o Pará, o Espírito Santo, Minas Gerais e Rondônia. Demorou, mas o mundo do chocolate aprendeu a enxergar os frutos brasileiros com outros olhos – confeiteiros internacionais e marcas famosas estão se rendendo à qualidade do nosso cacau de origem.
E você, já provou cacau in natura? Sabe como essa fruta suculenta, de polpa branquinha e bem doce, se transforma em chocolate? Este será o tema do próximo post da série.